Asclépio, Hermes e a Serpente
Asclépio aprendera a arte de curar com o centauro Quiron, segundo a lenda. Promovia a cura dos doentes e até ressuscitava os mortos. Enciumado por estes triunfos e pela subversão da ordem natural das coisas, Zeus matou-o com um raio e Asclépio, após sua morte, foi recebido como um deus. Esta é a origem na mitologia grega do deus da medicina, que era como Asclépio era cultuado por volta de 429 a.C., e representado por uma serpente. Com a conquista da Grécia pelos romanos, estes assimilaram os deuses da mitologia grega, trocando-lhes os nomes: Asclépio passou a chamar-se Esculápio.
Figura 1: Esculápio, no Museu do Vaticano
A serpente representa um papel importante na velha medicina mágica, representando as forças subterrâneas e, portanto, os deuses das regiões inferiores. Asclépio, ou Esculápio, a princípio, provavelmente foi venerado como deus das regiões inferiores e aparecia sob a forma de uma serpente, a quem eram oferecidas as oferendas. Posteriormente Asclépio é representado em várias esculturas segurando um bastão com uma serpente em volta.
Dois símbolos têm sido usados ultimamente em conexão com a medicina: o símbolo de Asclépio, representado por um bastão tosco com uma serpente em volta, e o símbolo de Hermes, chamado caduceu, que consiste em um bastão mais bem trabalhado, com duas serpentes dispostas em espirais ascendentes, simétricas e opostas, e com duas asas na sua extremidade superior.
Figura 2: Bastão de Asclépio
Se o símbolo de Asclépio está ligado à tradição médica, já o de Hermes (Mercúrio, para os romanos) está ligado ao comércio e, erroneamente, muitas vezes interpretado como símbolo da arte médica, o que se constitui em verdadeira heresia. Hermes, na mitologia grega, é considerado um deus desonesto e trapaceiro, deidade do lucro e protetor dos ladrões. Possuía a capacidade de deslocar-se com a velocidade do pensamento e por isso tornou-se o mensageiro dos deuses do Olimpo e o deus dos viajantes e das estradas. Como o comércio na antigüidade era do tipo ambulante, Hermes foi consagrado como o deus do comércio. Por isso o caduceu é o símbolo do comércio e dos viajantes, sendo utilizado em emblemas de associações comerciais e escritórios de contabilidade, por exemplo.
Várias tentativas existem para explicar porque há confusão entre o símbolo de Asclépio e o caduceu de Hermes, embora nenhuma explicação seja definitiva. Concorrem para isso uma série de distorções e erros históricos.
Durante a Idade Média, o bastão com as duas serpentes era utilizado como símbolo por impressores, mercadores, associações comerciais e até por sociedades secretas. O bastão acabou sendo associado também à alquimia. A ligação entre os médicos medievais e a alquimia fez o resto: na Inglaterra do século XV o caduceu de Hermes se tornou o emblema da classe médica e passou a ser estampado até nos livros de medicina.
Outro fato, ocorrido no século XVI, aumentou a confusão. Um prestigiado editor suíço, Johan Froebe, adotou para sua editora um logotipo inspirado no caduceu de Hermes e o utilizou na capa de obras clássicas de Hipócrates. Posteriormente, outros editores na Inglaterra e Estados Unidos fizeram o mesmo.
Mais recentemente, o fato que mais contribuiu para a difusão do caduceu de Hermes como símbolo da medicina foi a sua adoção pelo Exército norte-americano como insígnia do seu departamento médico, no século XIX, uma escolha errônea e que demonstra desconhecimento da iconografia mitológica.
Figura 3: Insígnia médica do exército dos EUA
Nas últimas décadas diversas entidades de prestígio, e com um mínimo de conhecimento da história da medicina, utilizam o bastão de Asclépio em seus emblemas, com destaque para o logotipo da OMS.
Figura 4: Símbolo da OMS
Nos Estados Unidos, o bastão de Hermes ainda é usado principalmente pelas empresas que vendem serviços médicos e planos de saúde.
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