O AMIGO DO REI


“(...) Fui vivendo, morre-não-morre, e, em 1914, o doutor Bodner, médico-chefe do Sanatório de Clavadel, tendo-lhe eu perguntado quantos anos me restariam de vida, me respondeu assim: o senhor tem lesões teoricamente incompatíveis com a vida: no entanto, está sem bacilos, come bem, dorme bem, não apresenta em suma nenhum sintoma alarmante. Pode viver cinco, dez, quinze anos... Quem poderá dizer? Continuei esperando a morte para qualquer momento, vivendo sempre como que provisoriamente.” (Manuel Bandeira - Itinerário de Pasárgada) Assim descreve Manuel Bandeira sua chegada à Suíça, com o fim de tratar sua tuberculose.
 
A esta altura contava já Bandeira com 28 anos de idade. Nascido em Recife, em 1886, aos 18 anos foi acometido pela tuberculose, doença à época estigmatizante e que levava os doentes ao isolamento social. Em conseqüência disso foi obrigado a abandonar seus estudos na Escola Politécnica de São Paulo e peregrinar por diversas cidades em busca de tratamento. Antes de chegar à Suíça, onde permaneceu por cinco anos, passou por Campanha, em Minas Gerais, Teresópolis, no Rio de Janeiro, Quixeramobim, Uruquê e Maranguape, no Ceará.
 
A convivência diária com a solidão e a tuberculose tornou Manuel Bandeira um dos grandes nomes do Modernismo e da poesia brasileira. Foi eleito em 1940 para ocupar a cadeira de número 24 da Academia Brasileira de Letras.
 
Na obra “Itinerário de Pasárgada”, Manuel Bandeira faz uma retrospectiva melancólica e afirma que o convívio com a idéia de morte é repousante, e faz dela a sua companheira, imbuindo a poesia de profundo sentimento de solidão. Este sentimento de solidão possivelmente deriva da sua convivência com a tuberculose, que o condenava a privar-se de tudo o que caracterizava a vida de um jovem e o fim de muitos sonhos. Alguns supõem ser a doença o motivo que o tenha feito permanecer solteiro até sua morte. 
 
“Itinerário de Pasárgada”, publicada em 1954, pode ser interpretada como uma autobiografia. Pasárgada é um local imaginário eleito por Bandeira para a realização de um sonho. O autor convida a todos a ir embora para Pasárgada e tornar-se "amigo do rei", um lugar ideal, utópico, onde tudo é possível. É lá onde existe, como se fosse uma dimensão paralela à real, "a vida inteira que podia ter sido e que não foi". Talvez expressasse seu sonho e o desejo de experimentar uma vida diferente daquela sua vivida.
 
É possível que a presença da ironia em seus poemas deveu-se à convivência diária de Bandeira com o pesadelo da morte. Em “Pneumotórax”, nota-se bem a ironia presente com a melancolia. Em uma época em que se tratava a doença realizando-se o pneumotórax, por que o autor não escreveu dançar um samba ao invés de um tango argentino? Talvez porque o samba seja sinônimo de alegria, e o tango traga embutido em si um sentimento de tragédia!

Ninguém imaginava que Manuel Bandeira pudesse viver tantos anos driblando a tuberculose e a morte. Faleceu somente em 1968, aos oitenta e dois anos de idade. E, como se por uma ironia, uma peça pregada pelo destino, característica tantas vezes presente em suas obras, morreu em decorrência de uma úlcera de duodeno. 
 

BIBLIOGRAFIA 
Vainsenche SA . Manuel Bandeira. Disponível em URL: http://www.fundaj.gov.br/docs/pe/pe0097.html
Acessado em março 09, 2005.
NILC. Manuel Bandeira. Disponível em URL: http://www.nilc.icmc.sc.usp.br/literatura/manuelbandeira.htm
Acessado em março 09, 2005. 
http://www.feranet21.com.br/livros/resumos_ordem/estrela_da_vida_inteira.htm
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