Tuberculose: uma viagem no tempo
Fig.1: Múmia de sacerdote egípcio (1000 a.C) com parcial destruição da coluna, comumente observada na Doença de Pott (Medicine – an illustrated history. New York, Abradale Press-Harry N. Abrams Inc. Publishers, 1987). |
A tuberculose é uma doença que caminha junto ao homem há muito tempo. Evidências de tuberculose em coluna foram achadas em esqueletos do período neolítico (7000-3000 a.C.) encontrados na Alemanha e também em múmias do Egito Antigo. Descrições sobre as manifestações da doença existem desde a Antigüidade, particularmente entre os gregos. Hipócrates, impressionado pelo emagrecimento progressivo e debilitação do doente, designava a moléstia por tísica (phtisis, em grego), que significa consumpção.
Os egípcios, considerados um dos povos mais sadios da Antigüidade, já nesta época, percebendo a progressão em cadeia da tuberculose, mantinham seus doentes em isolamento. Na Roma Antiga, foram descritos nos textos de Plínio, o Velho, também por Galeno e por Areteu da Capadócia, os hábitos tísicos e a possibilidade de cura da doença através do repouso e de climas melhores.
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Entre os árabes, no século XI, Aviccena compartilhava da opinião que a tuberculose possuía natureza transmissível. Na Renascença, por volta do século XVI, Gerolamo Fracastoro (1478-1553) intuiu que a doença se transmitia por via aérea através de um provável agente vivo eliminado pelos doentes, e também recomendava o isolamento sanatorial como forma de controle. Nesta época, freqüentes epidemias dizimavam os indígenas brasileiros, desencadeadas pelos colonizadores e jesuítas europeus que para cá se refugiavam em busca de cura.
No século XVIII, a tuberculose adquiriu o nome de Peste Branca em oposição à Peste Negra (Bubônica), e os índices de mortalidade eram altos na Europa. Devido a isso o rei Fernando VI, da Espanha, ordenou que os médicos informassem às autoridades de saúde todos os casos de tuberculose, o que não deixava de ser um primitivo sistema de notificação. Os doentes eram afastados da sociedade e, entre estes, esteve Frederic Chopin. Os objetos dos que morriam pela doença eram incinerados.
As idéias de Fracastoro, no entanto, foram muito combatidas e predominou, até meados do século XIX, o conceito de transmissão da tuberculose através de gases eliminados pelos pacientes ("miasmas"). Somente em 1865, Jean Antoine Villemin (1827-1892) demonstrou experimentalmente a transmissão aérea da tuberculose através do desenvolvimento da doença em cobaias expostas aos indivíduos doentes. Villemin propôs que um agente vivo seria o responsável por isso, organismo esse identificado em 1882 por Robert Koch (1843-1910), que recebeu o prêmio Nobel em 1905 devido às suas descobertas em relação à tuberculose.
Se a identificação do bacilo como agente etiológico foi um marco fundamental para o conhecimento da doença, a descoberta dos raios-X por Wilhem Conrad von Roentgen (1845-1923), em 1895, trouxe outra importante contribuição, que se estende até os dias atuais, para o diagnóstico e acompanhamento da tuberculose. O rápido desenvolvimento das técnicas radiológicas, que envolveu desde as radiografias convencionais, passando pela fluoroscopia e chegando à tomografia, proporcionou um melhor estudo e monitoração da doença no século XX. No campo da radiologia destacou-se o brasileiro Manoel Dias de Abreu (1892-1962) que, com a invenção da roentgenfotografia em 1936, posteriormente aclamada como abreugrafia, possibilitou o estudo radiológico em massa da população e de baixo custo, causando na época uma revolução nos métodos diagnósticos.
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